O Forro da Bermuda - ou Bretelle - define o Ciclista?
- Cicero Avila
- 12 de set. de 2023
- 6 min de leitura

Saiba mais sobre esse item essencial ao Ciclista, menosprezado por uns, supervalorizado por outros, ridicularizados até. O Forro da sua Bermuda ou Bretelle define o Ciclista que você é?
Por Cícero Ávila Quem já não ouviu de uma pessoa qualquer, que desconheça o Ciclismo, uma piadinha sobre o forro da Bermuda ou Bretelle que você usa? Termos como “Modess”, “Fralda” , “Enchimento” ou “Espuma” são frequentes para os desconhecedores da Funcionalidade de uma Forração adequada às Bermudas de Ciclismo. Em compensação, existem aqueles pseudo entendidos que avaliam a Qualidade de uma Bermuda simplesmente virando a peça do avesso, indo direto ao Forro e apertando a espuma, sentenciando se uma peça é boa ou não somente a partir disso. A verdade é que, quando se trata de uma vestimenta tão complexa como a de Ciclismo, principalmente a Bermuda ou Bretelle, o ponto-chave é pensar que você irá passar a maior parte do tempo sentado ali e, por isso mesmo, tanto o selim que se usa, quanto a roupa como um todo devem prezar pelo Conforto, em primeiro lugar. Isso implica não somente no Forro ser bom, mas a Roupa ser bem Modelada e, principalmente, que o Forro seja aplicado corretamente na peça, a fim de que proporcione o máximo de conforto e realmente seja capaz de contribuir para que o desempenho do Ciclista se torne melhor. Os pseudo entendidos que perdoem, mas existe muito mais segredo em fabricar uma Bermuda ou um Bretelle do que eles podem imaginar. Já ouvi de tudo, até de gente que critica, na internet, fazendo aqueles vídeos de encher linguiça para discorrer sobre um assunto que desconhecem, em seus respectivos canais no You Tube, avaliando de acordo com uma escala de valores que depende do quanto o patrocinador paga, para que eles falem um monte de bobagens sobre algo que não conhecem. Já ouvi um sujeito até falar de como a costura foi feita, sem ao menos entender disso. Para falar sobre um assunto, é preciso conhecer, ou pelo menos pesquisar sobre ele. E, quando se trata de Roupa de Ciclismo no Brasil, acredito que tenha conhecimento suficiente para poder versar sobre o assunto. Para escrever esse texto, fiz uma pesquisa e gostaria de registrar como algo não só peculiar, mas elucidativo e complementar ao meu trabalho, misturando um pouco do meu conhecimento e de História, para mostrar um pouco da evolução desses forros, ou como gosto de chamar, a Camurça.
Lá no final do século XIX, havia uma tentativa de fabricar roupas que pudessem ser usadas para pedalar, principalmente masculinas, mais parecidas com uma roupa social adaptada ao Ciclismo, usando o que havia disponível na época em termos de tecidos. Eram paletós e calças justos, feitos de lã em sua maioria. Hoje essas roupas são chamadas de Cycling Chic. O fato é que, até a década de 1930 a Roupa de Ciclismo era meio improvisada e não havia ainda um modelo que fosse realmente pensado para o Ciclismo. Usava-se até mesmo roupa da basquete ou tênis para pedalar. Mas as Roupas de Ciclismo eram um tanto “sociais”, nada parecidas com as que temos hoje. Essa referência está contida em um Método de Alfaiataria Italiano do século XIX. É, basicamente o método utilizado para todo o desenvolvimento da EXM, ainda hoje usado como base da Alfaiataria na Europa, obviamente ajustando os materiais para as tecnologias que o mundo têxtil oferece. No início dos anos 1940, alguém teve a idéia de adicionar uma peça interna no Calção - ou Bermuda - de Ciclismo para aliviar o atrito da pele com a lã. Nascia ali a Camurça, Fondello, ou como queiram chamar. A princípio, uma pele de carneiro ou qualquer outro animal que tivesse uma pele macia. Uma das marcas mais tradicionais e antigas do ramo na Itália, a De Marchi, fundada em 1946, iniciou a colocação desse item tão essencial e necessário ao Ciclista. A empresa hoje ainda é familiar e o herdeiro da De Marchi, o sr. Coccia, lembra-se de ver a avó dele cortando pilhas de Camurças, costurando nos calções de campeões. Marcas famosas como Castelli, Santini, Assos passaram também a colocar essas Camurças em suas peças, o que durou pelo menos quase cinco décadas. Somente nos anos 1970 começaram a colocar camadas sob as peles, como num Patchwork costurado que continha a pele natural em cima, uma camada de tecido ou feltro abaixo e no meio, uma fina espuma de 3mm.
Isso tudo mudou a partir do final dos anos 1980, quando a Camurça quase entrou em extinção e o preço da sua pele impossibilitava precificar os produtos que faziam uso de peles naturais, além claro da sobretaxação de impostos, normalmente pesados na Europa. Pensando em uma solução, uma pequena empresa localizada entre a Suíça e a Itália, lançou o primeiro Forro Sintético para Ciclismo, o Monolith, no início dos anos 1990. Totalmente termo moldado, o Forro possuía uma peça única, sem costura, com o formato de uma sela, apenas para ser costurado na parte interna do Calção. Curiosamente, aqui no Brasil, a primeira vez que esse forro apareceu foi em 1992, nas roupas da Biene, uma antiga e lendária marca de Roupas de Ciclismo, a primeira do Brasil, hoje parte do Portfólio de Marcas da nossa empresa. De lá para cá, um novo mercado surgiu dentro do Mercado de Roupas de Ciclismo na Europa. A região do Vêneto passou a concentrar algumas empresas que se dedicam apenas a produzir insumos para o Mercado de Roupas de Ciclismo, produzindo não só tecidos, mas acima de tudo aviamentos e, principalmente Forros, como hoje chamamos aqui no Brasil. Destaca-se nesse mercado, a sensacional Elastic Interface, que produz sua linha de forros com as malhas da MITI, uma indústria têxtil voltada exclusivamente ao setor do Ciclismo, tamanha a receita que ele gera, na Europa, principalmente. A Elastic Interface possui um maquinário de ponta, altamente tecnológico, e seu grande diferencial é o desenvolvimento de uma espuma elástica que faz de seus produtos quase únicos. Disse quase únicos, porque existem outras, mas na mesma região há uma outra, que é tão boa quanto a Elastic Interface, a Teosport. Ambas as empresas atendem marcas como Castelli, Isadore, Assos, La Passione, Santini, Giordana e Rapha, entre outras. Assim como sua concorrente, a Teosport oferece ao Mercado produtos únicos, forros para diversas modalidades do Ciclismo, com particularidades sensacionais como uma malha macia e levemente peluciada, para evitar o atrito ao pedalar. Com maquinário de alta tecnologia, a Teosport não fica nem um pouco atrás da concorrente principal, a Elastic Interface. Os forros são de altíssima qualidade, boa parte deles com estampas e multicamadas de espumas de diversas densidades. Os forros mais Tops, possuem gel para proteger as partes de maior contato com o selim, conferindo à Teosport uma qualidade excepcional, pois esse gel está não só bem colocado em contato com os Ísquios do Ciclista, mas possui a densidade e viscosidade perfeita para que o Ciclista não sinta que há uma sensação de viscosidade excessiva, o quê dá ao gel a propriedade de apenas amortecer, na medida certa. A escolha da EXM de usar os Forros Italianos da Teosport não veio por mero acaso. Nossa longa trajetória na confecção de Roupas de Ciclismo nos fez perceber que, uma parceria como essa, é vital para que nossos Bretelle ofereçam aos Ciclistas não só um bom forro, mas acima de tudo, um forro que além de ter as características tecnológicas já apresentadas, principalmente encaixe perfeitamente em nossa Modelagem, desenvolvida ao longo de anos de experiência, unindo em um só produto uma Modelagem de Alfaiataria desenvolvida exclusivamente para o Ciclismo, com um dos melhores Forros do Mundo, tão bem encaixado que o Ciclista terá a impressão que sequer está usando um Bretelle com um Forro costurado. Assim é a EXM.
P.S.: há algo ainda não alcançado por essas marcas de Forros. Nenhum tecido sintético ainda conseguiu ser tão compatível, em termos de contato com a pele, como a pele natural. Por mais macia que seja a Microfibra de Poliéster, a trama das malhas, o tecido natural ainda é superior. É facto ipsu que a pele natural exige cuidados, mas ainda sim, quanto mais se usa, mais macia fica. Quem sabe, um dia, tenhamos uma malha que se aproxime do tecido natural. Seria uma evolução e tanto.
fonte:
A Softer Ride: The History of the Chamois: HOW BIKE SHORTS WENT FROM SHEEPSKINS TO SPANDEX IN 50 YEAR, BY MOLLY HURFORD Published: Aug 17, 201
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